Policíadas

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sábado, 28 de fevereiro de 2015

06 - A Unidade Nacional de Polícia

De repente, vindo do nada, inesperado, qual meteorito arremessado  partir dum cometa sem nome, na galáxia que nos envolvemos, aparece a estupefação: de todas as coisas importantes que há a fazer, o que importa é tirar dos braçais o emblema que identifica os comandos a que pertencemos. Qual diretiva da CEE em que impôs, na altura, a fruta normalizada, eis que apareceu o polícia normalizado: nada de etiquetas, de símbolos de especialidades, comandos de origem, nada. Somos a Unidade Nacional de Policia. Não perceber que é pela diferença e pela diversidade que conseguimos e podemos ser unidos, é não estar à altura dos acontecimentos. A diversidade faz a unidade. A matéria une-se e atrai-se porque é diferente; porque o igual se repele. Essa "imperativa" que nos obriga a sermos todos iguais, sendo nós diferentes, é ainda menos coerente do que aquela em que proibiu as tatuagens.
 
NOTA FINAL: teria sido (mais) bonito, ontem, na homenagem aos dois camaradas, em Lisboa, se nos pudéssemos ter reconhecido na unidade pela diversidade; termo-nos reconhecido como um todo nacional, mas sabendo que aqueles polícias eram de Vila Real, aqueles outros de Santarém e aqueles além de Viseu. Enfim...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

05 - O Receio do Sofrimento


"Todos os sofrimentos que nos cercam, é-nos necessário sofrê-los igualmente. Todos nós, não temos um corpo, mas um crescimento, e esse conduz-nos através de todas as dores, seja sob que forma for. Do mesmo modo que a criança, através de todos os estádios da vida, se desenvolve até à velhice e até à morte (e cada estádio parece no fundo inacessível ao precedente, quer seja desejado ou receado), do mesmo modo nos desenvolvemos (não menos solidários da humanidade do que de nós próprios) através de todos os sofrimentos deste mundo. Para a justiça não há, nesta ordem de coisas, lugar algum, não mais do que para o receio dos sofrimentos ou para a interpretação do sofrimento como um mérito."

- Franz Kafka -

Em memória de todos polícias esquecidos mas que de vez em quando são notícia.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

04 - Explosivo!


"Três polícias foram condenados ontem [30 de Janeiro] no tribunal de Lisboa por terem sido pagos em dinheiro e em géneros por empresários ligados à exploração de pedreiras e ao fabrico de fogo-de-artifício. Em troca, avisavam-nos antecipadamente das ações de fiscalização e fechavam os olhos ao armazenamento, naqueles locais, de quantidades de explosivos superiores às permitidas por lei". É assim que começa o texto da notícia sobre elementos do Departamento de Explosivos da PSP, em Lisboa. Elementos corruptos, diga-se de passagem. Contudo o magistrado que leu os destinos aos três arguidos, teve esta tirada espantosa: "[Hoje] não é um dia feliz para vós. Não é um dia feliz para o Tribunal. Foram condutas continuadas no tempo, num espírito de total impunidade. Mas os Estado não de pode alhear deste problema e pagar 31 euros para almoçar, jantar e dormir, e pagar seis meses depois". Não se percebe muito bem quando, como e porquê entram os 31 euros na equação das penas. Por outro lado o Sr. Magistrado, talvez por descargo de consciência, tocou numa realidade que teima em prevalecer na polícia: se não são os polícias a resolver os problemas de gestão corrente, muitas vezes ficavam os serviços por fazer. As nossas instalações são do pior que há (não nos atirem com as exceções!), não há aquecimento; os móveis mantêm-se durante décadas sem que haja uma política de renovação. As fardas... nem vamos por aí. Resumindo: três polícias corruptos conseguiram que um magistrado atirasse, com um desabafo, com um número (31 euros), e consegue numa penada resumir a nossa histórica má relação entre a [nossa] logística e o poder político: temos o pior mas esperam, sempre, que sejamos os melhores. O resto é conversa fiada.